O GreNal virou um grande clichê
Ano após ano, temporada após temporada, jogo após jogo… não, este não é um texto clichê que você leria na grande mídia esportiva gaúcha, a qual considero uma das principais responsáveis pela sensação que me levou a escrever este texto.
De certa forma, cada vez mais o futebol brasileiro se distancia do padrão mundial do esporte que, por sua vez, já começa a ver sua intocável hegemonia perder espaço para duas ligas que ocorrem em apenas um país. Mas este também não é um texto sobre meu pressentimento de que, em alguns anos, o futebol não será o esporte mais popular do planeta (já não é o mais rentável) e sim sobre o ruralito, o charmoso gauchão e nosso eterno e repetitivo clássico.
As vezes, vemos grandes jogos: 0 x 0 na Libertadores com oito expulsos? Lindo (sem ironia, inclusive, mas hoje também não é dia de exaltar brigas no esporte).
4 a 1 do Inter na final do rural em 2014? Excelente.
Cinco a zero do Grêmio em 2016? Inesquecível.
Mas a pergunta que faço, e que peço que apenas pense, nem responda, é: qual a diferença de qualquer um desses, ou qualquer outro, para a história do falado maior clássico do Brasil?
— E o GreNal é o maior clássico do Brasil, a uma distância que deixa a mídia Rio-São Paulo desgostosa, tentando ano após ano engrandecer e nacionalizar Palmeiras e Corinthians e Corinthians e Flamengo. —
Todo pré-jogo é o mesmo discurso dos jornalistas, resumidos, principalmente, nas duas frases seguintes:
- “Não tem favorito em GreNal”
- “Cada GreNal é um jogo diferente”
E apesar de tais apontamentos serem verdade, aonde estão as análises mais abrangentes? Como esse GreNal se encaixa na história? Que relevância tem para ela? Qual é a narrativa por trás desse clássico não para o momento (no qual nossa mídia parece presa como no filme “Feitiço do Tempo”), mas para o clássico em si?
Após os jogos, claro, temos as mesmas provocações dos torcedores:
- “Tudo normal por aqui”, diz o torcedor do Grêmio quando o Inter ganhou mais GreNais
- “O Inter ganhou mais GreNais”, diz o torcedor do Inter há quase dez jogos sem ganhar um
- “O maior do sul ganhou”, dizem os dois
- “10 a 0”, diz um
- “5 a 2” no Olímpico diz outro
- “Xingamento homofóbico genérico” dizem os dois
Impressionantemente, tanto mídia, como torcedores, parecem contentes com isso e, como tudo no Brasil, são resistentes a mudança.
Enquanto a tendência mundial é desviar a conversa para os atletas (Messi ou Ronaldo, Jordan ou LeBron, Bolt ou Phelps, Serena ou Graff, Federer ou Djoko ou Nadal, Brady ou a aposentadoria) aqui continuamos tratando Inter e Grêmio como instituições sagradas, jamais contextualizando o papel daqueles que fazem o jogo. Não, não são vocês torcedores.
Tendência esta que, acredito, é uma das principais por fazer com que jogadores em auge técnico vão para a China. “Ah, mas o dinheiro…” não é como se fossem pobres aqui, mas no momento que alguém como Dudu, craque no nosso nível, velho para a Europa e para a Seleção, e que ganhou quase tudo com o Palmeiras, percebe que não tem mais nada para conquistar, realmente o dinheiro extra vai pesar mais.
Pois todo atleta profissional tem ego, e no momento que este não é alimentado pela cultura a sua volta, sua motivação vai, inevitavelmente, se esvair. Qualquer torcedor familiarizado com esportes internacionais sabe que o que o atleta de ponta busca é um lugar na história, o dinheiro se torna algo comum.
Voltando ao GreNal, quantos debates você já viu onde listam os jogadores mais importantes da história do clássico? Horas, os dois times têm vários “homens-GreNal”, mas quem foi maior? D’alessandro ou Everton? Fernandão ou Renato? Geromel ou Índio? E não que discutir isso seja o “certo”, mas seria apenas o natural e expandiria o espaço da discussão, trazendo elementos novos para enriquecer a conversa e motivar os jogadores a buscar mais do que a miséria que ganham para chutar uma bola — dessa vez, irônico.
Mas ano após ano, temporada após temporada, jogo após jogo, a única certeza é que o GreNal, o maior clássico do futebol brasileiro, se tornou um repetitivo e chato clichê.
Falta os torcedores perceberem que merecem mais.