Aos 13 — Rayssa Leal e o lugar da criança no Brasil
O que você fazia aos 13 anos de idade?
Talvez essa seja a pergunta do momento, enquanto o Brasil cai de amores pela nova sensação do nosso esporte, a Maranhense Rayssa Leal. Com apenas 13 anos, a "Fadinha do Skate" ficou a poucos pontos de se tornar a mais jovem vencedora da história dos Jogos de Verão, superando a mergulhadora norte-americana, Marjorie Gestring, nos Jogos de 1936 em Berlin — sim, os mesmos onde Jesse Owens ganhou quatro Ouros em frente a Hitler.
Conquistando a segunda medalha do Brasil na modalidade apenas no segundo pódio da história do Skate, Rayssa resumiu a sensação que todos temos em uma de suas redes sociais: ao repostar mensagem recebida por Pelé, Rayssa escreveu: "Zerei a vida", com alguns emojis que, de acordo com os últimos meses, deveriam ser cringe.
Eu lembro bem: na sétima série, meus hobbies eram jogar basquete e videogame, ainda não havia descoberto meu amor pelo Cinema e sofria vendo o Internacional colecionar vices justo em seu centenário. Pensando agora, jamais teria condições emocionais de representar sequer meu bairro, o que dirá um país do tamanho do Brasil no maior evento esportivo do mundo.
E Rayssa parecia nervosa. Desde a classificação, onde parecia torcer mais para sua inspiração, Letícia Bufoni, se classificar do que se preocupar com a própria colocação, até as últimas manobras decisivas na final. Infelizmente o Brasil, que era favorito até a um pódio completo, perdeu Pamela Rosa por lesão no tornozelo e Letícia por mínimos pontos, em resultado que inspirou o mais puro ódio nas redes sociais.
Essas que, por sua vez, colocaram em cheque o caráter de todos: onde já se viu adultos torcendo para que crianças estrangeiras caiam.
Assim como Kelvin, um dia antes, Rayssa perdeu o Ouro para uma atleta japonesa. Como bom leigo, não consigo — mas a partir de agora me dedicarei para tal — ler as pequenas nuances que determinam as notas no Skate, mas em ambas as provas, e pelo teste visual, sinto como se os brasileiros devessem ter saído com o Ouro. E não que a cor da medalha diminua o feito, para um país que passa por momentos tão delicados em todas as suas áreas, qualquer conquista esportiva surge como uma escalada ao Monte Olimpo, com seus adversários largando em ampla vantagem.
Mas se a vitória histórica deve, e vai, inspirar uma geração de Skatistas além de fazer os brasileiros descobrirem o esporte, deveríamos usá-la como objeto de estudo em como podemos melhorar o desenvolvimento de nossos jovens atletas. Em como podemos aproximar o esporte da escola e ampliar nossa busca por talentos, sem restringir, elitizar ou limitar uma caminhada que deveria ser feita de mãos dadas. Porém, acordamos com políticos usando o feito como exemplo de que crianças podem trabalhar, como se já não faltasse emprego para seus pais e mães.
É importante lembrar que aquele sorriso largo segurando a Prata Olímpica, de uma menina brasileira da cabeça às rodas, é de alguém que se diverte todo dia fazendo o que mais ama. Que todas as crianças de 13 anos no Brasil pudessem fazer o mesmo.